segunda-feira, 30 de julho de 2007

Jovem Guarda, versões e abobrinhas

Uns dois anos atrás, um amigo meu de São Paulo pediu-me para escrever um texto sobre o disco que eu levaria para uma ilha deserta. Supondo-se obviamente, que esta ilha deserta tivesse um som pra tocar o tal disco. Escolhi o LP Um embalo com Renato e seus Blue Caps, lançado originalmente em 1966, e muito tocado no ano seguinte. Naquele ano a Jovem Guarda dominava totalmente o mercado fonográfico brasileiro, e Um embalo com Renato e seus Blue Caps foi o disco mais tocado na época. Não apenas o mais tocado como o mais vendido. E foi também o primeiro disco que possui, e minha turma escutou até gastar os sulcos.

Os artistas da Jovem Guarda amparavam-se nos sucessos de bandas americanas, inglesas, mesmo canadenses ou australianas, enfim, sucesso internacionais. Na maioria das vezes a versão era infinitamente mais bem-sucedida do que a original. Look through any window, dos Hollies nunca tocou tanto no Brasil (e nem lá fora) quanto sua versão Pra você não sou ninguém, com Renato e seus Blue Caps.

Nunca fui muito de alimentar nostalgia. Hoje raramente ouço Jovem Guarda, acho quase tudo datado, gravações tecnicamente canhestras. Lembro de poucos álbuns de ié-ié-ié que tocado hoje não soe datado. Alguns de Roberto Carlos pela força interpretativa, principalmente os que lançou no final dos anos 60. Tem um de Wanderléa bem legal de 1967. Aliás, o melhor LP de Wandeca. Ela canta muito bem e conta com um acompanhamento primoroso e vigoroso dos Blue Caps. Os de Renato e os Blue Caps até 1972 são mais ou menos atualizados com o que acontecia no exterior. A Jovem Guarda a partir de 70 foi resvalando para o brega, muitos ídolos do ié-ié-ié assumiram numa boa a carapuça do brega. Tai Reginaldo Rossi que não deixa mentir.

Mas seguinte: anos mais tarde, criei um hobby pra mim, qual seja, o de caçar os originais das canções que se tornaram versões na Jovem Guarda. É um bom passatempo. Por exemplo, de repente se descobre que Boa noite, meu bem o singelo sucesso de Wanderléa, em 1966, é simplesmente Good night Irene, clássico do folk americano, mais conhecido na voz de Leadbelly, ou que Vou lhe contar, gravada por Wanderléa, é a Pushing too hard, do psicodélico e muito louco The Seeds. Esta última no citado LP de Wanderléa. Neste há duas versões matadoras para The boat that i row (Neil Diamond), que virou Hei de encontrar o meu bem, e de River deep mountain high, de Ike e Tina Turner, que ganhou uma versão intitulada Gostaria de saber.

Algumas canções originais demorei muito pra descobrir. Missin' you, canção que os Beatles assinariam, que eu achava ser de algum obscuro grupo inglês, é realmente de um grupo obscuro, porém português, o Sheiks. Missin' you entrava em todo repertório de bandinha e ié-ié-ié no Brasil. A mais difícil de encontrar porém foi a original de Meu bem não me quer. Conversei com Renato Barros, dos Bluecaps e nem ele lembrava mais o nome da banda que a gravou. O título da canção em inglês é My baby don't care.

Meu bem não me quer foi uma das canções mais tocadas no Brasil há 40 anos. Era a música que iniciava a garotada no violão. Foi a primeira que aprendi a tocar. Semana passada, mexendo na Internet finalmente chego ao original My baby don't care, que foi gravada em 1965, por um grupo do sul dos Estados Unidos, o The Gants, uma bandinha de garagem que só não tá completamente esquecida por causa de malucos que curtem bandas de garagem, e criam sites e blogs para este subgênero. The Gants teve um relativo sucesso na primeira metade dos anos 60, mas nunca passou de uma banda do Sul dos EUA que abria os shows de grupos ingleses como The Animals ou Herman's Hermits. Eram chamados Os Beatles do Delta do Mississippi. Tinham boa harmonias e interessantes soluções melódicas.

Tem umas músicas curiosas desta época. Um dos sucessos na primeira fase de Roberto Carlos foi Brucutu, que é versão de Alley Oop, dos Argyles, banda americana que nunca existiu (a música foi gravada por músicos de estúdios, antecipando-se aos Archies e aos Gorillaz). Porém a mais importante é The road hog, de J.D Loudermilk, um cara que emplacou alguns sucessos menores no inícios dos anos, mas até hoje é pouco lembrado nos EUA. Pois bem, The Road Hog recebeu uma versão intitulada O calhambeque, e virou um clássico da música brasileira, música-símbolo da Jovem Guarda. Ih, o texto ficou muito longo. Semana que vem continuo com mais abrobrinhas sonoras.

Fonte: JC online


Comentário do João: Eu sou fã, fãzaço, da JG.

2 comentários:

Anônimo disse...

Man, eu adoro seu blog ! Sempre trazendo as últimas sobre o Fab Four e outras interessantes :)

Sobre a Jovem Guarda, eu gosto até, minha mãe sempre foi de cantarolar as músicas daquela época e talz. Mas essas versões que faziam em português, para as músicas dos Beatles, eu não gosto muito não..mas.. :)

=*

Anônimo disse...

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