segunda-feira, 23 de julho de 2007

Ao som dos Beatles, Nicarágua comemora revolução

A data nacional nicaraguense – 19 de julho, dia da vitória da Revolução Sandinista em 1979 – nunca deixou de ser comemorada mesmo ao longo dos 16 anos (1990-2006) de vigência dos governos neoliberais, que se seguiram à primeira derrota eleitoral da Frente Sandinista de Libertação Nacional. Tão arraiagados estão os valores e símbolos da revolução no imaginário da população que mesmo as forças mais conservadoras ousaram revogar o feriado nacional.

Este 19 de julho, porém foi especial. O 28º aniversário da tomada do poder pela guerrilha da FSLN foi celebrado com a Frente Sandinista de novo no poder, após o triunfo eleitoral de novembro do ano passado e a posse de Daniel Ortega, em janeiro de 2007. Desde o alvorecer centenas e centenas de velhas “guaguas” como são chamados os ônibus num autêntico “castelhano capira” chegavam à capital trazendo ruidosas delegações que se dirigiam à Praça da Sé, uma imensa área da capital, palco de grandes concentrações populares, inclusive quando da visita do Papa João Paulo II, que tem ali sua imagem erigida em monumento ao lado de um cruzeiro.

Também dos bairros da capital, desde cedo as pessoas saíam das suas casas trajadas “a caráter” – gorro e camiseta vermelhas e a bandeira rubro-negra da FSLN. Às 3 da tarde a praça já está lotada. Difícil calcular, mas no mínimo 200 mil pessoas se comprimiam. Enquanto esperavam o início do ato político, que só começaria três horas depois, dançavam e cantavam canções revolucionárias desfraldando as bandeiras sandinistas, mas também as de Cuba e da Venezuela. A maré humana crescia, apesar de uma fraca mas persistente chuva.

“Arriba los pobres do mundo” (De pé, pobres do mundo), Viva a Revolução! Eram estas as palavras de ordem que encimavam um mega cartaz onde se destacavam as fotos de Rubem Dario, o poeta-mor nicaragüense, Daniel Ortega e Augusto Cezar Sandino, o general dos homens livres. Foi também com essas palavras que a poeta Rosário Murilo, animadora do ato político chamou à mesa Daniel Ortega e Hugo Chavez, ao som do hino dos trabalhadores, dos combatentes pelo socialismo, dos revolucionários e comunistas, “A Internacional”.

Estavam também presentes os presidentes Martin Torrijos, do Panamá, e Zelaya Gonzalez, de Honduras. Representando Cuba, Abel Prieto, membro do Birô Político do Comitê Central do Partido Comunista Cubano e ministro da Cultura. Estavam também célebres figuras da Revolução Sandinista,os comandantes Bayardo Arce e Thomas Borge, o padre Miguel Descoto, e as principais autoridades do país. Curiosa, mas emblemática dos novos tempos, a presença de D. Obando y Bravo que nos anos 80 foi um ferrenho opositor da Revolução e hoje, reconciliado, convive democraticamente com o novo governo sandinista.

O oceano de gente não se embalava apenas nos acordes e versos inflamados do hino comunista ou do hino sandinista “luchar, luchar, luchar”, mas também com uma singela versão para o castelhano de “Power to the People (Poder para o Povo), dos Beatles e de “Vamos dar uma chance à Paz´”, também do saudoso quarteto, mesclada com um atualíssimo “rap”, clamando por paz e reconciliação, uma das idéias força da eleição de Ortega.

Ovacionado pela multidão o presidente venezuelano Hugo Chavez fez “uma saudação revolucionária ao heróico povo de Sandino”, destacou o papel da juventude e das mulheres e apontou o rumo libertador das lutas atualmente em curso no continente. “Estamos travando a batalha pelo socialismo, que se levanta de novo e que é o único caminho para a verdadeira libertação dos nossos povos”, disse Hugo Chavez.

O presidente bolivariano defendeu enfaticamente a união dos povos. “É tempo de unidade. A Revolução abre seus braços, respeitando as peculiaridades, os ritmos diferenciados e a soberania de cada país. Não temos outra alternativa senão unir-nos, pois somente unidos seremos livres”. O presidente venezuelano deixou uma mensagem de esperança e fez um chamamento: “Tudo tem sua hora... Já basta de dominação, divisão entre nós e miséria. Chegou a hora da libertação e da revolução”.

O ato termina em clima de apoteose, com o discurso do presidente nicaragüense Daniel Ortega. O comandante sandinista também saudou a juventude, a quem chamou de “tesouro da humanidade, fonte de revoluções”.Exaltou o papel da mulher e anunciou que doravante as mulheres ocuparão no mínimo 50% dos cargos de direção nas instâncias do partido, do governo e do Estado. Enviou uma saudação especial ao comandante cubano Fidel Castro, “nosso irmão maior, inclaudicável, valente e solidário”.

Daniel Ortega fez um breve balanço dos primeiros seis meses de seu governo. “Depois de 16 anos, estamos de novo comemorando o 19 de julho com o povo presidente, o povo no poder”. Ele demonstrou que o governo está implantando importantes projetos políticos e sociais, que vão aprofundar a democracia e combater a pobreza. No plano político, o destaque é para os “Conselhos de Poder Cidadão”, uma espécie de poder de base, poder popular e “democracia direta”.

Foi anunciado que em poucas semanas foram criados 6334 Conselhos de Poder Cidadão”, com 500 mil pessoas organizadas. Há planos para atingir o conjunto da população nos meses vindouros. No plano social,o presidente nicaragüense destacou o programa “Fome Zero”, de apoio aos pequenos agricultores e a campanha pela alfabetização.

Daniel Ortega também deixou uma mensagem antiimperialista e unitária: “Estamos trabalhando para unir todos os que estejam dispostos a desafiar o império e a lutar contra a pobreza e a fome”. Enquanto a multidão delirava, de novo ecoavam pela Praça da Paz os acordes da Internacional e das canções dos Beatles.

Zé Reinaldo,
De Manágua

Fonte: Vermelho


Comentário do João: Primeiro que não é Beatles, é John Lennon.
Segundo, la revolución soy yo!

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