sábado, 16 de junho de 2007

Ian McEwan, Beatles e o fim da repressão sexual

No Brasil, o novo romance de Ian McEwan. Na Praia surge em ambiente de transição entre repressão e abertura moral, em que o sexo livre era apenas uma sugestão anunciada com a promessa da pílula anticoncepcional.

O poema Annus Mirabilis, do britânico Phillip Larkin (1922-1985), é tido como a mais completa tradução do clima de repressão sexual em que vivia a Inglaterra no começo dos anos 60. No ar, era possível apenas pressentir, de modo tênue, as imensas mudanças sociais, culturais e políticas a que o Ocidente assistiria até o fim dessa década revolucionária. De 1967, o texto dizia: “O intercurso sexual começou/ em mil novecentos e sessenta e três/ (tarde demais para mim)/ entre o fim da proibição de “Lady Chatterley”/ e o primeiro disco dos Beatles’’.

Explique-se. O Amante de Lady Chatterley, obra mais famosa de D.H. Lawrence (1885-1930), contava as aventuras sexuais da mulher de um aristocrata impotente com o empregado da residência do casal. Considerado imoral, o livro, apesar de escrito em 1928, só foi liberado em 1960. Nesse meio tempo criou-se um fervilhante mercado negro, em que cópias clandestinas eram disputadas pela juventude, curiosa pelas cenas de sexo explícito. Já o primeiro disco dos Beatles dispensa apresentações. Trata-se de Please Please Me (1963) - das bonitinhas, mas safadas Love Me Do e Do You Want To Know a Secret.

Pois é neste ambiente de transição entre repressão e abertura moral, em que o sexo livre era apenas uma sugestão anunciada com a promessa da chegada da pílula anticoncepcional, que se passa o mais recente romance de Ian McEwan, Na Praia, que chega agora às prateleiras do Brasil.

O escritor britânico conta que evitou mencionar o poema de Larkin. “Eu ia usá-lo como epígrafe, mas desisti, pois achei que seria muito óbvio”. Acabou pagando o preço, pois quase todas as resenhas e reportagens que saíram sobre o livro não conseguiram descrever o período de um outro jeito. “Decidi que ia dar dez libras para o jornalista que conseguisse não falar do poema. Até agora, ninguém ganhou, nem você”, disse, rindo.

Na entrevista feita por telefone, de Londres, McEwan, 59, disse que D.H. Lawrence é mesmo um de seus inspiradores. “Li Lady Chatterley quando jovem. Sua liberação, em 1960, mostrou que uma mudança nos costumes estava para vir, mas ninguém imaginava que seria algo tão explosivo. O fim da proibição do livro foi o começo do fim de uma era, de um modo de pensar. Estávamos vendo todo um establishment começar a desaparecer”.


Noite de núpcias

Na Praia narra um episódio de poucas horas, no ano de 1962. Começa com o jantar de núpcias entre os recém-casados Edward e Florence, ambos virgens e de 22 anos. Os jovens estão num hotel de uma praia inóspita, iniciando sua lua-de-mel. O romance evolui durante a longa e trágica tentativa de ambos de, finalmente, fazerem sexo pela primeira vez.

"Ser jovem naquele tempo ainda era um problema, e não algo abençoado como é hoje. Todo mundo queria ser mais velho, ser levado a sério. Assim, casar e atravessar a noite de núpcias era um sinal de que, enfim, a maturidade chegara”.

A Inglaterra vivia os últimos momentos antes de ver homens com cabelos compridos e meninas de minissaias nas ruas. “Edward e Florence teriam inveja do que iriam assistir nos anos seguintes, mas, infelizmente, estavam para trás no relógio da história”.


SERVIÇO

Na Praia, de Ian McEwan e tradução de Bernardo Carvalho. Editora: Companhia das Letras. Preço: R$ 33 (136 págs.)


AS PEDRINHAS

A carreira de McEwan é marcada por polêmicas - que certamente o ajudam a vender mais livros. Em mais de uma ocasião, foi acusado de plágio. A mais recente foi a acusação de ter roubado passagens do livro de uma autora de romances de guerra, Lucilla Andrews, já morta, para compor Reparação (2001). Em todas elas, foi posteriormente inocentado.

No ano passado, surgiu um irmão até então desconhecido do autor, que, ainda bebê, havia sido dado para adoção pela mãe de McEwan. Agora, a sarcástica mídia britânica está se divertindo com o fato de que o escritor foi denunciado por ter levado para casa pedrinhas da praia de Chesil, onde fez pesquisas para ambientar Na Praia. Foi obrigado a devolver as pedrinhas.

Fonte: Jornal O Povo


Comentário do João: Essas safadeeeenhas.

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